Conto baseado no RPG Lobisomem: Apocalipse
Querido diário,
Meses se passaram e o que eu temia se
tornou evidente. Não tenho mais como esconder a gestação. A única
coisa que escondo é a maneira como foi concebida.
Ando pelos cantos tentando ao máximo
evitar olhares alheios. Mas nem sempre consigo. O philodox de minha
matilha passou a me observar constantemente. Ele nada fala, mas eu
creio que ele desconfia de algo. Não só ele, acho que os outros
também desconfiam. Quem não desconfiaria de algo ao ver uma grávida
infeliz com o bebê que espera?
Até esse exato instante o pai do
impuro que carrego no ventre não sabe o que se passa comigo. Não
consegui a coragem necessária para compartilhar o fardo com ele.
Ainda mais agora que nosso relacionamento acabou. Ele acha que o
traí. Acha que o bebê é de outro. Ah se ele soubesse que essa
gravidez é fruto do pecado que ambos cometeram... O pior de tudo não
é ocultar a verdade dele e sim não saber qual será a reação
quando souber. Me rejeitará? Ou aceitará? A segunda opção
aliviaria meu coração, pois eu ainda o amo. E sinto que, apesar de
ele ter terminado comigo, seu coração ainda me pertence.
Eu poderia ter ido a um theurge pedir
uma “solução” para o caso logo no começo. Não consegui.
Parece que o instinto materno falou mais alto do que meu medo. Serei
recompensada no final?
Final... Será que terei um bom
final? Ou morrerei tentando? O medo de toda mãe em não conhecer o
seu bebê é o que sinto. Morrerei no parto? Ou sobreviverei e
carregarei a marca de ser mãe de um impuro? São tantas coisas
passando em minha mente que não sei ao certo se todas tem
fundamento. Torço para que o fim (ou o início)
não seja trágico, assim como o conto que contei no dia do meu
ritual de passagem, ao qual ganhei meu nome garou: Tragédia
Sangrenta.
Falta tão pouco tempo... E meu pequeno impuro cresce cada vez mais dentro de mim.
Abnara Campebell